Leonorana 7.
We Care a Lot 
2024

Projeto editorial: Isabel Carvalho.
Entrevistas a:  Susana Caló, Andreia Magalhães, Cristiana Pires, Isabel Carvalho, Nina Paim e Pedreira.
Editorial project: Isabel Carvalho. Interviews with: Susana Caló, Andreia Magalhães, Cristiana Pires, Isabel Carvalho, Nina Paim e Pedreira.

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EDITORIAL
Num número especial, realizado em parceria com o maat – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, a revista Leonorana traz a público um conjunto de conversas que valorizam o cuidado com a saúde mental como prioridade na reflexão em torno da cultura contemporânea. Em alternativa ao paradigma do cuidado centrado no indivíduo como entidade isolada, nele é evidenciado o papel das comunidades onde o indivíduo se integra e encontra um lugar de acolhimento e pertença. Estes diálogos a várias vozes dão a conhecer experiências comunais, de interajuda e de felizes interdependências, ativas nos domínios cultural e artístico. Esta edição especial da Leonorana resulta de um convite do maat para desdobrar o tema “cuidar”, já abordado no número 4 da revista, lançado em plena pandemia. Entre 2020 e 2021, a reflexão sobre o ato de “cuidar” mereceu especial atenção da sociedade em geral, que experimentou uma mudança radical nos seus hábitos e costumes.
Com efeito, durante a pandemia, muitas pessoas viram-se forçadas a cuidar – de si e dos outros – sem estarem preparadas para isso, e muitas outras viram os seus cuidados interrompidos, nomeadamente devido à quase total concentração dos serviços de saúde pública na situação pandémica. No entanto, apesar do contexto, formaram-se novas comunidades de solidariedade e de interajuda, e outras que já existiam até se consolidaram-se, encontrando novos meios (presenciais e não presenciais) para se manterem ativamente coesas. No contexto atual, em que a situação pandémica está controlada e se apregoa um retorno ao “normal”, é particularmente importante não deixar cair o tema, quer para que não se arrisque o esquecimento dos efeitos que a pandemia teve sobre o bem-estar individual e coletivo, quer para que se mantenha o tema presente na discussão pública, dando-lhe o devido destaque, já fora e além de uma situação limite. É com base no pressuposto de que continua a ser pertinente esta reflexão que a ela voltamos, pois não queremos nem podemos retroceder nas preocupações relativas ao “cuidar”.
Contudo, quando agora nos referimos ao “cuidar”, dedicando-lhe um número especial da revista em colaboração com o maat extended, fazemo-lo a pensar na atenção que deve ser dada especificamente à saúde mental – uma das áreas dos cuidados de saúde mais negligenciada durante a pandemia e, porventura, uma das mais afetadas pelo isolamento. Percebendo a extensão e a complexidade da abordagem deste tema na atualidade, o presente programa editorial – que foi concebido por Isabel Carvalho e conta com as participações de Susana Caló, Nina Paim, Andreia Magalhães, o manifesto coletivo Pedreira e a associação Kosmicare – pretende dar a conhecer formas de viver e de pensar em conjunto, ajudando-nos a perceber como o cuidar da saúde mental implica – positivamente – estar em “relação” com outra/s existência/s, humana/s e não humana/s. Porque em cada comunidade se desenha uma rede de relações que exigem compromissos, e inevitavelmente fomentam codependências, entender-se-á a sua atividade como uma alternativa ao individualismo liberal, que longe de colocar em causa a singularidade de cada pessoa, lhe serve de estímulo ao bem-estar.

EDITORIAL
In a special issue, produced in partnership with maat, the Museum of Art, Architecture and Technology, Leonorana magazine presents a series of conversations that place mental health at centre stage in understanding contemporary culture. They articulate an alternative to the healthcare model that treats individuals in total isolation from each other and seeks instead to highlight the role community, as an environment offering acceptance and a sense of belonging, can play in the care process. These dialogues in different voices bear witness to experiences of community, mutual care and happy interdependence currently being practised in the fields of art and culture.
This special edition of Leonorana is a response to an invitation from maat to explore “care” as a theme – one that was touched on before in its fourth issue, released during the pandemic. In 2020 and 2021, we saw a lot of engaged reflection on care across society as a whole in the wake of the drastic changes to our lives brought about by lockdown. Many people were forced to act as carers for themselves and others without being adequately trained to do so. And many saw their care provision interrupted or cut off entirely because of the almost total reallocation of public health resources toward fighting Covid-19. Despite everything, it was a time when many new solidarity and mutual-aid networks were established, and one which saw others that already existed grow in strength, in an attempt to discover novel ways (both in person and online) to help us stay connected to each other.
Now, at a juncture where the pandemic seems to have been brought under control and with those in power heralding a return to normal, it’s crucial we don’t leave care by the wayside. We don’t want to risk losing sight of the effects the pandemic had on us, be that collectively or individually. And so we must strive to keep the topic alive in the public discourse, lending it the attention it still deserves beyond the extreme conditions of lockdown.
That said, when speak of care in the context of this special issue in collaboration with maat extended, we are particularly concerned with the issue of mental health – one of the areas of healthcare most neglected during the pandemic and, possibly, most affected by lockdown. Recognising the breadth and nuances of contemporary thinking about care, this series – conceived by Isabel Carvalho and boasting the participation of Susana Caló, Nina Paim, Andreia Magalhães, the Pedreira collective and the Kosmicare collective – seeks to shine a spotlight on ways of living and thinking collectively, and allows us to see the ways mental health care practice asks us (and this is a good thing) to exist in relation to other beings, be they human or otherwise. Every community involves forging a network, requires us to make compromises and encourages interdependency, and as such, presents us with an alternative to the paradigm to liberal individualism, one which, rather than undermining the uniqueness of each person, serves as a means of advancing their well-being.


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