Leonorana 6.
Nuclear Nuclear
2023

Projeto editorial: Isabel Carvalho.
Coedição: Vanessa Badagliacca.
Ensaios de Michael Marder, Verónica Perales Blanco, Anaïs Tondeur & Marine Legrand, Alice Miceli, Joana Rafael, José Carlos Costa Marques, Vanessa Badagliacca, Alberto Berzosa Camacho, Isabel Carvalho, Maud Jacquin, João Paulo Guimarães. 
Editorial project: Isabel Carvalho. Co-edition: Vanessa Badagliacca.
Essays by: Michael Marder, Verónica Perales Blanco, Anaïs Tondeur & Marine Legrand, Alice Miceli, Joana Rafael, José Carlos Costa Marques, Vanessa Badagliacca, Alberto Berzosa Camacho, Isabel Carvalho, Maud Jacquin, João Paulo Guimarães.


EDITORIAL
A Energia das Estrelas
Para esta Leonorana juntaram-se várias vozes ao debate sobre o “nuclear”, atravessando tempos e geografias. José Carlos Marques, num depoimento na primeira pessoa, fala-nos da influência que o ativista ambiental, editor e cartoonista Pierre Fournier teve na consciencialização ambiental em Portugal e conta-nos como a questão nuclear foi aqui tratada em projetos editoriais independentes. Sobre a mesma época, Alberto Camacho apresenta-nos a sua mais recente investigação sobre a existência de um filme realizado durante o Festival pela Vida em Ferrel, do qual se desconhece quer a autoria quer a atual localização. Ainda sobre Portugal, Isabel Carvalho trata do lastro da intensiva extração de urânio deixado no inconsciente da população da Urgeiriça numa ficção onde as crianças, como promessa do futuro, se tornam reféns da negligência e dos abusos do passado. O ensaio de Vanessa Badagliacca reúne uma série de encontros que gravitam em torno do nuclear, mas sem a pretensão de ter um núcleo como centro, e desagua na questão da necessidade de reforçar a aliança ibérica anti-nuclear. No contexto internacional, Verónica Perales traça o percurso dos movimentos ecofeministas, das suas ações e realizações artísticas, e demonstra como resgatar a memória nos ajuda a perceber a sua influência na forma como vivemos, nos situamos e apreciamos estética e eticamente o mundo. O ensaio de Maud Jacquin debruça-se sobre a vulnerabilidade do corpo a par do da Terra na interseção com a tecnologia, e sobre as políticas que a estes se sobrepõem nos filmes da realizadora experimental feminista queer Sandra Lahire. Num cruzamento de tempos pouco distantes. Alice Miceli, apresenta-nos um ensaio composto de registos fotográficos do lugar onde ocorreu um dos eventos mais dramáticos da nossa época – a central nuclear de Chernobyl, na Ucrânia. E é também a Chernobyl que Michael Marder regressa problematizando questões como energia e radioatividade, entre outros assuntos, no contexto da ocupação do local pelas tropas russas desde 24 de fevereiro de  2022, data do início do conflito. Anaïs Tondeur, que anteriormente realizou com Marder um dos mais notáveis trabalhos em torno do nuclear – The Chernobyl Herbarium (2016) –apresenta agora um ensaio de resistência, em colaboração com a antropóloga Marine Legrand, que se une ao ativismo contra as expropriações de terras e trabalhos preparatórios operados pela Agência Nacional de Gestão de Resíduos Radioativos (ANDRA) para construir um depósito nuclear nas camadas geológicas profundas do Bure, no extremo entre os departamentos franceses do Alto Marne e do Mosa, em França. João Paulo Guimarães escreveu uma série de poemas segundo métodos experimentais de reescrita, de mutação e atomização, a partir de um texto de Carolina Cuevas sobre o impacto ambiental da extração de ouro e da exploração da energia nuclear em Laguna Verde, no estado de Veracruz, no México, que, por sua vez, tem como motor precisamente o projeto The Chernobyl Herbarium, de Michael Marder e Anaïs Tondeur. Joana Rafael analisa o modo como o ambiente continua a interagir com o desenvolvimento do nuclear, não só como “sujeito” de danos colaterais (e intencionais), “vítima”, mas também como “agressor” – papel derivado da pressão que lhe impomos, das nossas urgências e até mesmo das soluções de segurança que têm vindo a ser desenvolvidas neste setor.
Desconhecendo o caminho que seguirá doravante o muito preciso debate em torno do nuclear, certo é que enquanto energia continuará a definir o nosso futuro e os nossos imaginários que seguirão atentos aos perigos que o acompanham.


EDITORIAL
The Energy of the Stars
This issue of Leonorana brings together several voices that speak on the ‘nuclear’ subject across different times and geographies. José Carlos Marques gives a first-person account of the influence of French environmental activist, publisher and caricaturist Pierre Fournier in raising environmental awareness in Portugal as he tells us how the nuclear issue was dealt with in independent publishing projects. Looking into the same period, Alberto Camacho brings us his most recent research on a film made during the Festival pela Vida em Ferrel, a work whose authorship and current location are unknown. Also, on the subject of Portugal, Isabel Carvalho examines the scars of intense uranium extraction on the consciousness of the people of Urgeiriça in a fictional piece where children become hostage of the negligence and abuses of the past. Vanessa Badagliacca brings together a series of encounters on the nuclear issue, particularly on the need to reinforce the Iberian anti-nuclear alliance. In the international context, Verónica Perales traces the trajectory of ecofeminist movements, their actions and artistic productions, demonstrating how ransoming memory helps us understand its influence on the way we live and aesthetically and ethically appreciate the world. Maud Jacquin’s essay deals with the vulnerability of the human body and the body of Earth in the intersection with technology and the policies that override them in the films by experimental queer feminist filmmaker Sandra Lahire. Intersecting times that are not very distant, Alice Miceli contributes an essay made of photographic records of the place that saw one of the most dramatic events of our epoch – the nuclear Chernobyl nuclear power station in the Ukraine.Michael Marder also returns to Chernobyl to problematize issues such as energy and radioactivity in the context of the site’s current occupation by Russian troops since the beginning of the conflict on 24 February 2022. Anaïs Tondeur, who, together with Marder, authored one of the most remarkable works on the nuclear topic – The Chernobyl Herbarium (2016) – produced an essay in resistance in collaboration with anthropologist Marine Legrand, who joins the fight against land expropriation and preparatory works by the National Agency for the Management of Nuclear Waste (ANDRA) to build nuclear waste storage facilities in the geological depths of Bure, between Haute-Marne and Meuse, in France. João Paulo Guimarães wrote a series of poems following experimental re-writing, mutation and atomization methods based on a text by Carolina Cuevas on the environmental impact of gold-mining and nuclear energy production in Laguna Verde, in the Mexican state of Veracruz, which, in turn, was driven by Michael Marder’sand Anaïs Tondeur’s said project for The Chernobyl Herbarium. Joana Rafael analyses how the environment continues to interact with nuclear development, not only as the ‘subject/victim’ of collateral (and intentional) damages, but also as an ‘aggressor’ – a role that it plays due to our pressure on it, to our urgencies and even to the safety solutions that have been developed for the sector.
Although we cannot foresee the path of the much-needed debate on the nuclear issue, it is certain that as energy it will continue to define our future and our imagination, which will remain attentive to the accompanying dangers.


︎︎︎ ︎ ︎︎︎