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Leonorana 2.
2018

Projeto editorial: Isabel Carvalho.
Coedição: Sónia Neves e Tânia Espinoza.
Ensaios de Anton Yarush, Eduardo Batarda, Tania Espinoza, Ana Carvalho, Maria Luísa Malato, Clara Batalha, Irene Lusztig, Helder Mendes Baião, Isabel Carvalho, Claes Tellvid, Ana Matilde Sousa, Mafalda Santos, Laura Sequeira Falé e André Tecedeiro.Editorial project: Isabel Carvalho.
Co-edition: Sónia Neves e Tânia Espinoza.
Essays by Anton Yarush, Eduardo Batarda, Tania Espinoza, Ana Carvalho, Maria Luísa Malato, Clara Batalha, Irene Lusztig, Helder Mendes Baião, Isabel Carvalho, Claes Tellvid, Ana Matilde Sousa, Mafalda Santos, Laura Sequeira Falé e André Tecedeiro.


EDITORIAL
Longe estaríamos de imaginar que ao tratar do tema da “família” pudessem acrescer dificuldades ao já complicado e delicado trabalho de edição — que é, em certa medida, o de constituir um tipo de família, temporária, com um propósito em vista. Neste número, foram mais os convites declinados, maior o tempo de espera e os ensaios que nunca chegaram do que no anterior e do que tínhamos previsto. A “família” tornou-se, assim, num problema de reflexão editorial. Estará o assunto tão datado que se apresenta agora esvanecido, tendo perdido a força que teve noutros tempos? Ou será um tema demasiado sensível, subjetivamente difícil de lidar, em época de tanta insegurança e instabilidade? O comentário especializado ofereceria certamente uma argumentação coerente e bem estruturada, que talvez explicasse a ansiedade suscitada por um tema tão vasto e complexo. Porém, o projeto desta revista diverge da especialização. (...) Sobre os ensaios publicados, apresentámo-los sucintamente: o ensaio poético de Claes Tellvid tem como ponto de partida o livro The Death of the Family (1970), de David Cooper; os ensaios de Luísa Malato e de Helder Mendes Baião debruçam-se sobre conceções de família do século XVIII nas obras literárias Uma Grifaria de Manuel de Figueiredo e Laure ou lettres de quelques femmes de Suisse de Samuel de Constant, respetivamente; Irene Lusztig apresenta uma versão de um ensaio maior, publica- do online (www.canopycanopycanopy.com), sobre o arquivo, por si constituído, de representações da maternidade; Mafalda Santos desenha uma teia de nomes, de laços de afeto, de sobrevivência e de sentido, na qual cruza a identificação de elementos da sua família com referências à comunidade que se formou durante o tempo em que viveu e geriu a residência artística e literária Moinho da Fonte Santa, no Alandroal; Isabel Carvalho parte de um biombo ilustrado por Aurélia de Sousa para abordar a ética do cuidar; Anton Yarush reflete sobre as representações da família, entre estereótipos e desvios, num dado meio cultural (Cáucaso Norte), percetíveis no filme Closeness (Tesnota, 2017) do qual é argumentista; Ana Carvalho apresenta um conjunto de desenhos que se inspiraram na metodologia especulativa de Ursula Le Guin tratada em Dancing at the Edge of the World; Ana Matilde debruça-se sobre um género de BD e de animação japonesas que colocam em rutura as expectativas sobre os lugares de pai e de mãe na estrutura familiar; Eduardo Batarda traslada, da série de pinturas intitulada Image Descriptions, textos que tiveram, por sua vez, como derivação curtos fragmentos de artigos críticos ou recensões relacionados com arte, história e crítica de arte, aqui ficcionalmente projetados, sob a idealização de família; Tania Espinoza através de dois documentários de Leyla Assaf-Tengroth, reflete sobre género e envelhecimento; Laura Sequeira Falé escreve sobre o trabalho de “agrafagem” intitulado Famílias da autoria de André Tecedeiro (das quais aqui se publicam duas imagens); por fim, o ensaio visual de Clara Batalha capta a família como uma espécie em mutação por sucessivas transgressões integradas, retirada do exemplo da vegetação comum.

EDITORIAL When we chose the theme of “family” we had no idea it would make our editorial job even more complex and tricky, because, to some extent, as editors we also have to form some kind of temporary, goal-oriented family. In this issue, more invitations were declined, more essays failed to be delivered and even the waiting time was longer than in the previous one. Thus, “family” became a matter for editorial discussion. Is the theme so outdated that it has lost the power or appeal it once had? Or, on the contrary, is this a sensitive subject, too emotionally di cult to deal with in today’s shifting and precarious world? Experts would certainly present coherent and well-structured commentaries that might explain the anxiety around this highly charged subject. However, the purpose of this magazine is not specialization. (…) The essays published in this issue concern themselves with the following aspects: Claes Tellvid’s poetic essay addresses David Cooper’s book The Death of the Family (1970); Luísa Malato and Helder Mendes Baião’s essays explore eighteenth-century conceptions of family in the literary works of Manuel de Figueiredo’s Uma Grifaria and Samuel de Constant’s Laure ou lettres de quelques femmes de Suisse, respectively; Irene Lusztig presents a longer version of a text already published online (www.canopycanopycanopy.com), which discusses the archive she has built on representations of maternity; Mafalda Santos’s draws a web of names and ties of affection, survival and meaning, crossing elements that identify her family members with references to the community created during the time she organized and participated in the literary and artistic residency Moinho da Fonte Santa, in Alandroal; Isabel de Carvalho takes as a starting point an illustrated screen by Aurélia de Sousa to approach the ethics of caring; Anton Yarush’s reflects on the representations of family in a specific cultural milieu (the North Caucasus), exploring its stereotypes and detours, through the screenplay he wrote for the film Closeness (Tesnota, 2017); Ana Carvalho presents a group of drawings inspired by Ursula Le Guin’s speculative methodology addressed in Dancing at the Edge of the Worl; Ana Matilde explores Japanese comics and anime, a genre that disrupts the expectations regarding the roles of fathers and mothers in the family unit; Eduardo Batarda uses texts from the painting series Image Descriptions, which originally resulted from short fragments of reviews and essays on art, art history or art criticism, and are now fictionally projected to explore the idealization of family; Tania Espinoza discusses gender and aging by analysing two documentary films by Leyla Assaf-Tengroth; Laura Sequeira Falé writes about André Tecedeiro’s stapling work entitled Famílias [Families] (of which two images are reproduced here); finally, the visual essay by Clara Batalha captures family as a species in mutation throughout successive integrated transgressions, with examples taken from ordinary vegetation.

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